Certa vez, em algum lugar na Eternidade, o espírito olhou para o espelho das águas cósmicas que fica na mansão do Eterno e viu uma criança. Identificou-se com ela. Observou tão atentamente aquela figura em desenvolvimento que foi transportado ao mundo dos reflexos.
Nasceu, interagiu com outros reflexos, amou, chorou, se apaixonou, sofreu, sorriu, criou laços... Mas, de repente, o reflexo trincou como um espelho e começou a se desfazer. Ele viu seu reflexo no cosmo sofrendo em um leito de hospital, agonizando. Agarrou-se ao espelho desesperado, tentando colar os pedaços quebrados, mas apenas se feria.
O espelho enfim se desfez em cacos, e ele se viu nu. Toda aquela experiência — tão intensa e aparentemente real que fosse— havia se desfeito como pedacinhos no tempo. O espírito pegou um fragmento, tentando ainda se ver, mas apenas seus olhos eram visíveis. Uma lágrima verteu.
Até que despertou do transe e reconheceu: “Esse que procuro desesperadamente não sou eu... é apenas um reflexo transitório de mim no cosmos.”
Então, soltou o caco, que se desfez como grãos de areia no Universo. O espírito, afinal, nunca havia deixado o reino da Eternidade. Apenas havia se esquecido de sua origem e realidade, pois estava mergulhado no mundo dos reflexos impermanentes.
Platonismo – O Mundo das Ideias
Platão ensinava que o mundo sensível (material) é apenas uma sombra ou reflexo imperfeito do mundo das ideias, eterno e verdadeiro. Na sua alegoria da caverna, os prisioneiros veem apenas sombras projetadas na parede — reflexos — acreditando serem reais. O espírito, ao despertar, percebe que tudo aquilo era apenas aparência.
Vedānta (Filosofia Hindu) – Māyā e Ātman
No Vedānta, especialmente no Advaita Vedānta, a realidade do mundo é chamada de Māyā, uma ilusão que cobre a verdadeira identidade do ser — o Ātman, o Eu interior, que é uno com o Brahman, o Absoluto.
Gnosticismo – O Despertar da Centelha Divina
No gnosticismo, a alma humana é vista como uma centelha divina caída num mundo ilusório. A salvação ocorre quando essa alma desperta para sua verdadeira origem celeste e rompe com o mundo dos reflexos (matéria, sofrimento, ilusões).
Comentários