FILHOS DO SOL E DO AMANHÃ
Por Fábio Correia
Em Vitória da Conquista, interior da Bahia, onde o sertão se encontra com a Mata Atlântica, há o conhecido mirante do pôr do sol, onde está a obra do artista Mário Cravo, "O Cristo Sertanejo". Uma alusão aos antigos sertanejos que ali iam, em procissão, clamar aos santos e a Deus por chuva e fartura. Uma espécie de via crucis até a Serra do Periperi. (Abençoadas sejam as almas dos índios que lá viviam).
Enquanto na serra repousa a obra de Mário Cravo, na cidade está o jardim da catedral, lugar de passagem e descanso dos transeuntes, enquanto o sino toca na matriz.
Dizem que o pôr do sol de Vitória da Conquista é belo como uma joia do sertão da Bahia. Diferente do pôr do sol soteropolitano, que se deita no oceano, o de Vitória da Conquista repousa na caatinga, onde os umbuzeiros e mandacarus florescem. Outros dizem que é como o sol de El-Amarna, a Akhetaton de Amenófis IV, conhecido como o faraó louco por sua ousadia em criar uma metrópole no meio do deserto.
Acho o nome Vitória da Conquista redundante, mas entendo: a redundância é um selo de sua futura grandiosidade. Pois, segundo os oráculos do amanhã, ela se tornará sinônimo de cultura, música, arte, teatro e beleza.
Diz uma vidente que viu no mirante do Cristo de Mário Cravo teatros, museus de arte moderna, gastronomia e lazer. O jardim se projetou na serra para dizer ao sertanejo, dantes crucificado pela seca, que o sertão se tornará um santuário verde da natureza e do canto dos pássaros. O sertanejo bahiano, como diz Elomar figueira, " Futuca a cuia, pega o catadô e vai plantar feijão no pó". É do pó do sertão que Vitória da Conquista planta o futuro e se levanta como um broto no cheiro da chuva, em progresso.
Certa feita, em viagem, ouvi algo: "Conquistenses se acham!", disse um indivíduo presunçoso. Ainda bem que se acham, pois perdidos não podem permanecer. Os sertanejos são filhos do sol, e reverdecem nas estações próprias.
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