A Pessoa Original e o Ātman Supremo
A ideia de Kṛṣṇa como a Pessoa Original está em harmonia com os ensinamentos da Bhagavad-gītā (cap. 10, verso 8), onde Kṛṣṇa declara:
“Aham sarvasya prabhavo mattah sarvaṁ pravartate”
(Eu sou a fonte de todos os mundos; tudo emana de Mim).
Isso nos remete à concepção do Paramātman, o Eu Supremo presente em todos os seres, conforme o Kaṭha Upaniṣad (2.2.13):
“Eko'vasiṣṭaḥ saṁyamāgniṣu sarvān / eṣa brahma eṣa viṣṇuḥ eṣa śivaḥ…”
(Ele é Um, mas assume todas as formas. Ele é Brahmā, Viṣṇu e Śiva…)
Kuntī reconhece que, embora Kṛṣṇa esteja presente "dentro e fora de tudo" (antar bahiḥ), permanece invisível (alakṣyam), pois a visão mundana é limitada pelas aparências materiais.
2. Transcendência e Immanência: O Mistério da Divindade
A declaração de que Ele é invisível mesmo estando em tudo ecoa o conceito da maya (ilusão), que encobre a verdadeira percepção do Ser Divino. Conforme a Īśopaniṣad (verso 5):
“Tad ejati tad na ejati / tad dūre tad v antike…”
(Ele se move e não se move. Está longe, mas também está perto.)
A divindade é um mistério: simultaneamente imanente (presente em tudo) e transcendente (além de tudo). Kuntī, com clareza filosófica e reverência devocional, reconhece essa natureza paradoxal de Kṛṣṇa.
3. Conhecimento Transcendental e Humildade Devocional
A visão de Kuntī não é apenas de sabedoria, mas de entrega: ela oferece reverências. Na tradição bhakti, isso é crucial. O conhecimento verdadeiro não leva à arrogância, mas à humildade e devoção.
Como diz o Bhagavata Purāṇa (1.2.11):
“vadanti tat tattva-vidas tattvaṁ yaj jñānam advayam / brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate”
(Os conhecedores da Verdade suprema descrevem essa Realidade como Brahman, Paramātman e Bhagavān.)
Kuntī reconhece Kṛṣṇa não apenas como o Absoluto impessoal (Brahman) ou o Ser Cósmico (Paramātman), mas como Bhagavān, a Pessoa Suprema com forma, sentimentos e reciprocidade amorosa.
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